A Doença de Parkinson (DP) é uma condição neurológica progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente a população idosa. Caracterizada por tremores, rigidez muscular, lentidão dos movimentos (bradicinesia) e perda do equilíbrio, essa doença compromete a mobilidade e a independência dos pacientes. Felizmente, a tecnologia tem aberto novas portas na área da saúde, e uma dessas inovações é o uso da Realidade Virtual (VR) como ferramenta terapêutica.
Neste artigo, vamos entender como a VR tem sido aplicada no tratamento da Doença de Parkinson, com foco na reabilitação do equilíbrio, a partir de uma revisão científica realizada por Edmara Bastos Ludwig e Irineu Jorge Sartor (2019), do Centro Universitário UNIFACVEST.
O que é a Doença de Parkinson e como ela afeta o equilíbrio?
A Doença de Parkinson é causada pela degeneração de células da substância negra, nos núcleos da base do cérebro, resultando na redução da dopamina — neurotransmissor responsável por coordenar e suavizar os movimentos. Isso gera sintomas como tremores, rigidez e instabilidade postural. De acordo com o estudo:
“Com a degeneração dos neurônios, o padrão inibitório fica exacerbado, fazendo com que o paciente tenha complicações em modular os mecanismos de equilíbrio” (LUDWIG & SARTOR, 2019, p.2).
Essas alterações resultam em uma marcha em bloco, com passos curtos e arrastados, além de postura inclinada para frente e perda da mobilidade dos braços, aumentando o risco de quedas e dificultando as atividades cotidianas.
O papel da Realidade Virtual na reabilitação do Parkinson
A Realidade Virtual vem sendo utilizada como um recurso complementar à fisioterapia tradicional, oferecendo uma abordagem mais interativa e motivadora. Ela se baseia em jogos eletrônicos que simulam atividades da vida real e exigem respostas físicas dos pacientes, como mudanças de direção, transferências de peso e controle postural.
Segundo os autores: “A principal vantagem oferecida são os elementos importantes para o aprendizado motor, como a repetição, a retroalimentação e a motivação, que favorecem o processo de aprendizagem” (LUDWIG & SARTOR, 2019, p.3).
Além disso, a VR promove estímulos cognitivos e sensoriais por meio de feedbacks visuais e auditivos, aumentando o engajamento do paciente nas sessões de tratamento.
Evidências científicas: o que mostram os estudos?
A pesquisa de Ludwig e Sartor (2019) realizou uma revisão de literatura com base em 46 artigos, dos quais sete foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão. Esses estudos utilizaram diferentes protocolos de treino com VR e avaliaram seus efeitos em pacientes com Parkinson. Abaixo, destacamos os principais resultados:
Diversos estudos têm investigado os efeitos da realidade virtual (VR) como ferramenta terapêutica na reabilitação física, especialmente no que diz respeito à melhora do equilíbrio e da mobilidade funcional. Laio et al. (2014) utilizaram o Wii Fit em sessões de 45 minutos, duas vezes por semana, e observaram que o grupo que utilizou a realidade virtual apresentou uma melhora significativa na velocidade de cruzamento de obstáculos e no equilíbrio dinâmico, em comparação com os grupos controle e de fisioterapia tradicional. Já Yang et al. (2015) compararam o treino de VR realizado em casa com a fisioterapia convencional e constataram que ambos os grupos mostraram melhora no equilíbrio, na caminhada e na qualidade de vida, indicando que a RV é tão eficaz quanto o treino convencional.
Outro estudo interessante é o de Lee et al. (2015), que aplicaram um programa baseado em dança virtual (K-pop) e observaram efeitos positivos sobre o equilíbrio, nas atividades da vida diária e também na redução de transtornos depressivos. Gandolfi et al. (2017) conduziram um estudo multicêntrico com 76 pacientes utilizando o programa TeleWii, e concluíram que a realidade virtual é uma alternativa viável para o tratamento clínico voltado à redução da instabilidade postural.
Nogueira et al. (2017), por sua vez, relataram melhoras significativas no equilíbrio após 20 sessões de treino com o Wii Fit Plus, especialmente nas provas da Escala de Equilíbrio de Berg. Mesmo em estudos com amostras reduzidas, como o de Costa et al. (2018), que envolveu apenas cinco pacientes e três sessões de intervenção, foi possível observar uma discreta melhora no equilíbrio, sugerindo que maiores amostras e períodos mais longos de intervenção podem gerar resultados mais sólidos.
Esses achados reforçam o potencial da realidade virtual como uma ferramenta complementar ou alternativa eficaz aos métodos tradicionais de reabilitação física.
Quais são os principais benefícios observados?
Com base nos estudos analisados, a Realidade Virtual mostrou os seguintes resultados gerais: 86% dos participantes tiveram melhora no equilíbrio estático e dinâmico; 52% relataram mais facilidade nas atividades de vida diária (AVDs); 10% apresentaram redução em sintomas depressivos, indicando benefício emocional e psicológico. Esses dados reforçam a capacidade da RV de proporcionar não só ganhos físicos, mas também motivacionais, emocionais e funcionais para os pacientes.
Por que a RV pode ser mais eficaz do que a fisioterapia tradicional?
A fisioterapia convencional, embora fundamental, pode se tornar repetitiva e desmotivadora. Em contrapartida, a VR oferece desafios constantes, interação em tempo real e um ambiente lúdico que aumenta a adesão ao tratamento. Como destaca a pesquisa: “O uso da VR surge como uma alternativa para solucionar essas dificuldades, ampliando as possibilidades e adesão ao tratamento” (LUDWIG & SARTOR, 2019, p.3). Além disso, a possibilidade de treinos domiciliares com supervisão remota (telereabilitação) amplia o acesso ao tratamento e reduz custos com deslocamento.
Limitações e perspectivas futuras
Apesar dos resultados promissores, ainda há desafios. Alguns estudos apresentaram amostras pequenas, tempo de intervenção curto ou metodologias variadas, o que dificulta uma padronização nos protocolos. A revisão conclui que: “É necessário desenvolver estudos futuros com maiores amostras e períodos mais longos, pois a reabilitação nesses pacientes às vezes é lenta” (LUDWIG & SARTOR, 2019, p.15). No entanto, o cenário é otimista. Com o avanço da tecnologia e o aumento da demanda por tratamentos personalizados e acessíveis, a tendência é que a VR ganhe cada vez mais espaço nas clínicas e nos lares.
Conclusão
A Realidade Virtual tem se mostrado uma aliada eficaz, segura e inovadora no tratamento da Doença de Parkinson, especialmente na reabilitação do equilíbrio e na melhora da qualidade de vida. Os dados coletados em estudos nacionais e internacionais reforçam sua eficácia, tanto isoladamente quanto combinada com a fisioterapia tradicional.
Além dos ganhos físicos, a VR promove motivação, engajamento e bem-estar emocional, o que é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento crônico. Investir nessa tecnologia é investir em uma vida mais ativa, segura e independente para quem convive com o Parkinson.
Referência principal:
LUDWIG, E. B.; SARTOR, I. J. Influência da Realidade Virtual no Treino de Equilíbrio do Paciente com Doença de Parkinson. Centro Universitário UNIFACVEST, 2019.